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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Entrevista - Victor Pradella

*Publicada posteriormente na Revista Cristã Edição 81 - Março 2012


"Acredito que a simplicidade revela a essência das coisas, ou não esconde! Jesus era muito simples e acessível, mas à medida que alguém se envolve e O conhece, vê que a coisa é muito mais profunda do que realmente parece de fora. Eu vejo os acústicos assim também."


Foto: William Bucholtz
Victor Marques Pradella, de 25 anos, é músico, produtor musical e guitarrista da banda de Rodolfo Abrantes. Nascido em Paranavaí (PR), passou parte da infância (a partir dos sete anos) e grande parte da adolescência (dos 16 para 17 anos) morando no Brasil e Estados Unidos, já que seus pais se divorciaram e o pai mudou-se para a América.

Antes de completar 18 anos, Victor mudou-se sozinho para Balneário Camboriú e decidiu construir a vida como gostaria. As idas aos Estados Unidos diminuíram e, até hoje, vive no litoral catarinense. A sua irmã mais nova, atualmente, mora com ele.

Através do mar, de algumas ondas e amizades em comum, Victor conheceu Rodolfo e eles se tornaram amigos. Há cinco anos, Pradella integra a equipe de Abrantes. “Vivíamos juntos pegando onda perto de casa, jogando futebol no Playstation e tocar é mais uma coisa que fazemos juntos... não consigo nem quero enxergar isso de uma maneira muito profissional, perde a graça”, resume.

Além de ser apaixonado por música, Victor gosta de passar horas fotografando e destacou “As Crônicas de Narnia” como o livro preferido. “Lewis foi um cara diferenciado, me ensinou que sempre existe mais para ver naquilo que vejo”, explica.

Apesar de tocar bastante rock com o Rodolfo e extrair belos timbres de suas guitarras, Victor é apaixonado pela música acústica. “O set acústico está sempre presente e é com certeza o que eu mais gosto”.

Depois de conhecê-lo e fazer um som com ele ao melhor estilo “rodinha de violão” no Congresso de Mocidade da Igreja Batista Getsêmani, convidei Victor para falar ao blog.

Quando você começou a se interessar por música? Como foi a sua formação musical?
VP: Começou aos sete anos, quando quis aprender a tocar bateria. Na época, não tive muito incentivo da minha mãe, por causa do barulho (rs). Pouco depois, antes de sair de casa, meu pai me deu um violão e logo depois comecei a aprender. A “doença” pegou e só piorou desde então (rs). Estudei violão erudito com um cara monstruoso, chamado Arnaldo Santos, que hoje é maestro em Curitiba (PR). Mas foi só. Guitarra, baixo, batera, piano, ukulele, viola, gaita e “sei lá mais o quê” foi metendo a cara... eu nunca aprendi tocar nada direito, mas um pouquinho de tudo (rs).

Como foi a sua história de conversão? De qual igreja é membro?
VP: Viiiiiiiiixi, aconteceram uma série de coisas. A conversão do meu pai e o que vi acontecer na vida dele depois da separação foi incrível. Apesar de na época eu ser uma criança, sabia que aquilo não era normal... Cresci em um ambiente cristão, porque minha mãe sempre me levou para a igreja desde pequeno, mas não tinha a minha experiência para contar até a minha adolescência. Para resumir, vou dizer o que mais me aproximou de Deus. Quando eu tinha 21 anos, eu sofri um acidente e perdi parte do meu dedo indicador esquerdo. Foi um tempo muito difícil, porque eu realmente achei que minha música estava comprometida. Mas nesse tempo, vi Deus me ensinar muito sobre recomeçar, depender totalmente dEle e sobre o serviço para Ele. Ele me fez lembrar de quando me entreguei para Ele e eu decidi que queria ser usado à Sua maneira e não à minha. E Deus faz como lhe apraz... passei por um período intenso de adaptação mas, se pudesse escolher, faria tudo de novo. Nunca cresci tanto com Deus quanto em tempos de crise! Faço parte da Igreja Metodista em Balneário Camboriú, acredite se quiser (rs).

Victor em ação, com Rodolfo Abrantes ao fundo.
Foto: Caio Felipe
Você toca com Rodolfo Abrantes desde quando? Como começou esta história?
VP: Já tem quatro ou cinco anos que o acompanho. Na verdade, somos amigos há mais tempo que isso. Acabei o conhecendo por amigos em comum como o Xexeu, nosso batera, e o cunhado dele (Rodolfo), o Guiga, que era nosso baixista até o ano passado. Vivíamos juntos pegando onda perto de casa, jogando futebol no Playstation e tocar é mais uma coisa que fazemos juntos. Não consigo nem quero enxergar isso de uma maneira muito profissional, perde a graça.

Além de tocar, você também produz ou compõe?
VP: Produzo, tenho um estúdio de gravação e amo produzir. O processo de ver a música tomar forma é mágico. Tenho minhas composições também. Meu projeto para esse ano é começar a gravar meu acústico, com minhas músicas e com músicas que foram e são importantes na minha caminhada.

Como você concilia a agenda de apresentações do Rodolfo com outras atividades profissionais, como seu trabalho de produtor musical no Silver Tape Studio?
VP: A minha vida é meio doida, não tenho muita rotina. Às vezes tem muita coisa no Silver Tape e viro madrugadas trabalhando, saio direto do estúdio, pego uma mochila em casa para encontrar a galera no aeroporto. Às vezes fica mais tranqüilo e não preciso de tanta loucura. 

Nessas viagens tocando pelo Brasil, alguma apresentação em específico te marcou? Se sim, por que?
VP: Várias. Cada momento em que no meio de tanto barulho, você vê gente se tornando consciente de que precisa mudar e, cansados de buscar água em poços secos, decidem aceitar o convite de se sentar à mesa da ceia do próprio Deus, não tem como esse momento não se tornar especial. Poder conciliar a música que eu tanto amo e recheá-la com a minha fé, isso não tem preço. Mas é claro que tem eventos especiais... Nós abrimos um show para o P.O.D. na ultima turnê deles no Brasil e esses caras são responsáveis pela trilha sonora da minha vida! Eu ouvi a vida inteira, foi muito especial estar com eles e, mais do que isto, poder conversar com o Sonny (vocalista) e ver nele a humildade e desprendimento de um servo do Senhor e irmão em Cristo. Foi realmente um momento ímpar. Outro momento especial foi abrir um show para o Jake Hamilton, que é fantástico. Mas o que tornou a coisa incrível foi ver o guitarrista atual dele, que se chama Marc Ford (formador e ex-membro do Black Crowes, Ben Harper etc...), um dinossauro do rock, que se converteu de uma forma louca e sempre foi uma grande influência musical para mim. Isto tudo fez a noite ser marcante.

Em uma de nossas conversas no acampamento de carnaval da Igreja Batista Getsêmani, em Belo Horizonte, você disse que, apesar de tocar rock (elétrico) atualmente, você curte mais um som acústico. Você falou, inclusive, que, de todos os seus instrumentos, os violões são os seus preferidos. Você sente falta de tocar acústico?
VP: Falta não, porque, apesar de poucas vezes, a gente coloca isso na estrada. Vivemos tocando acústicos nos nossos momentos em casa, nossas reuniões... O set acústico está sempre presente e é com certeza o que eu mais gosto. Apesar de gostar da barulheira com os caras, o acústico não enjoa e não cansa.

Ainda sobre o acampamento da Getsêmani: Você promoveu e participou de várias rodinhas de violão durante o retiro e muitos jovens admiraram sua simplicidade e prazer em estar com eles, dividindo aqueles momentos, considerados especiais. Existe alguma razão para você ser apaixonado por rodas de violão? Consegue explicar?
VP: Acredito que a simplicidade revela a essência das coisas, ou não esconde! Jesus era muito simples e acessível, mas à medida que alguém se envolve e O conhece, vê que a coisa é muito mais profunda do que realmente parece de fora. Eu vejo os acústicos assim também.

Qual música não pode faltar na roda de violão?
VP: Qualquer uma da Banda Resgate. É muita responsa!

O fiel "amigo" de Victor, o violão Gibson EC-20 Starburst
Foto: Talisson Henrique da Silva
Pode falar um pouco sobre os seus violões (O Gibson e o Baby Taylor)? Como é a sua “relação” como eles?
VP: (Rs) Eu tenho uma relação especial com todos meus instrumentos, são uma extensão de mim quando estou tocando. Eles se expressam melhor do que eu quando tento falar. Mas os violões são especiais. O Taylor nem tanto, vive jogado na areia nas rodas de violão na praia, e pelos cantos em casa... Mas o Gibson já não, esse é um assunto delicado, apesar de não gostar de me apegar nas coisas, ele é o meu ponto fraco, é um dos meus poucos instrumentos que acho que não trocaria ou venderia. Pretendo ficar com ele para sempre.


E como adquiriu o Ukulele?
VP: O Rodolfo fez uma viagem para o Hawaii e trouxe um para mim, é apaixonante. Uso muito em casa e nas nossas reuniões na igreja, nas rodinhas e tem duas faixas do novo CD que nós usamos.

Quais foram e ainda são as suas influências musicais? O que gosta de ouvir?
VP: Viiiiiiiiiixi é coisa hein... Coisa velha, de preferência. Meu pai me deu a coleção de discos de vinil dele e só chega até o começo dos anos 80... os anos 60 e 70 eu sou apaixonado... a coisa era de verdade, orgânica... ninguém era muito bom, mas tinha vida e verdade. Amo Blues e Rock in Roll, Albert King, Freddy King, BB King, Eric Clapton, SRV, Marc Ford, Scott Henderson, Derek Trucks, David Gilmour… são guitarristas que me ensinaram que menos é mais, sempre! Ultimamente tenho ouvido muito Jonny Lang com o álbum “Turn Around”, épico! E o disco gospel do "Ben Harper and the Blind Boys of Alabama", album "There will be a light", fantástico!

Alguma banda em específico marcou a sua adolescência?
VP: P.O.D. acho que foi a mais ouvida!

Você consegue apontar algum guitarrista/violonista de referência para você?
VP: Marc Ford me fez chorar, mas seria injusto dizer um. Violonista que sempre me emociona é meu pai, covardia essa competição, minhas cantigas de ninar foram as melhores (rs).

Pode descrever o setup que usa em shows e gravações (guitarras, violões e efeitos)?
VP: Amps de gravação: Fender Twin, Orange ou Vox casado com a minha Tele Fender 60 anos ou a DOT Semi Acústica para guitarras mais limpas; para guitarras mais quentes, uso a minha Fender Strato reedição 72 toda mudada que eu montei ou algumas Les Paul ou SG com um Mesa Boogie para "fazer neném chorar". Os Efeitos, tanto na estrada quanto para gravar, uso o que eu acho que a música pede: V-Twin da Mesa Boogie, quase sempre; BB Preamp da Xotic Effects, Tremolo Diamond, Pedal Wah da Wilson, Whammy da Digitech, Reverb da Strymon o Bluesky, Delay DL4 Line6 e um DD2 Boss Japones, basicamente isso. Quando falta alguma coisa, pego emprestado. Violões: Gibson EC-20 Starburst, Baby Taylor Mohogany, Taylor 214E, Gibson L4-A. Ukulele Kala (Tenor) ou Lanikai (Soprano), Viola 10 Cordas da Fox... vixiiiii é muita coisa, posso ficar até amanhã falando (rs).

Foto: Denise Gluzezak
Você já tocou no meio secular (antes de se converter ou não)? O que acha sobre músicos cristãos que tocam com artistas seculares?
VP: Eu não toquei, mas acho que se o cara consegue não contaminar tem mais é que ir mesmo. "Como conhecerão se não há quem vos fale?" Conheço alguns que tocam e fazem diferença onde estão, já ouvi uma série de testemunhos. Fora que o dinheiro geralmente é melhor. Infelizmente, os cristãos e igreja (instituição), na grande maioria, não aprenderam a valorizar os seus músicos, tem quem o faça!

Você, o Rodolfo e toda a banda mantém, digamos, um visual ‘alternativo’, como dreads, brincos e tatuagens. Estes elementos já foram muito criticados em décadas passadas pela igreja. Vocês ainda sofrem preconceitos por causa disto?
VP: Sim, mas o nosso chamado é para esse tipo de gente. Nós temos consciência de que, quando abrimos essa porta, fechamos a porta do tradicionalismo, mas é assim, infelizmente. Apesar de procurarmos não fazer de propósito, ainda somos motivo de escândalo para alguns.

Você acha que esta divisão entre música secular e música religiosa deve existir? Ou música sempre será música, porém cada uma com uma mensagem e objetivo diferente?
VP: Cara, não gosto muito do termo música cristã ou música secular, acho que música é música, e era antes desses termos. Acredito que toda música tem uma inspiração e um propósito. Acho que existem cristãos que, inspirados por Deus, expressam sua fé com o propósito de voltar essa atenção para que as pessoas conheçam Aquele que os inspirou e Deus é assim glorificado... Como tem pessoas que são inspiradas por sexo e expressam isso para incentivarem os outros a viverem transando por aí, ou a usar drogas... 

Como você avalia a música cristã no Brasil e no mundo (tanto na questão técnica, letras, estilos, evolução)?
VP: Existem músicas que o sujeito faz atrair o louvor para ele, acho isto uma baita falta de tempo! Letras são relativas, acho que musica é arte e talvez eu não compreenda ou não concorde com o que alguém escreveu, mas eu respeito, afinal o cara está se expondo ao escrever aquilo. Tecnicamente falando, como músicos, os brasileiros tem um potencial enorme e, a começar por mim, temos que parar de tentar copiar os gringos. Nossa cultura é outra e isso deveria ser valorizado e exposto na nossa música. Quanto entendermos isso, acho que daremos um salto gigante e nossos músicos estarão competindo de igual para igual em um Grammy.

Nas décadas de 80 e 90, existia uma divisão muito forte entre música evangélica e música secular. Com o crescimento e profissionalização da música cristã, artistas cristãos ganharam espaço na mídia secular e, atualmente, são vistos como profissionais mais respeitados. Na sua visão, quais são os pontos positivos e negativos disto?
VP: A exposição pode ser um problema. Como eu disse, se o cara não conseguir ficar sem se contaminar quando for exposto, isso vai aparecer, pois o que vende na mídia é a polêmica. Os pontos negativos sempre vão ser valorizados. Porém, é a chance de mostrar que gente comum pode usar a sua influência para o bem e mostrar o que Deus pode fazer na vida de uma pessoa como, por exemplo, o Rodolfo... Chega de se esconder, tem muita gente precisando de médico. Então, por que não usarmos a mídia para isso?

Finalizando: para você, o que é música?
VP: Acho que nem em mil anos conseguiria te responder isso com palavras. Talvez ao me ouvir tocando, eu te responda isso com mais clareza.

O vídeo abaixo mostra um pouco sobre bastidores de Rodolfo e banda, com música e as guitarras de Victor Pradella ao fundo!



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5 comentários:

  1. Ótimo, sem dúvida o Victor e mais um dos caras que aprendi a admirar e acompanhar o trabalho de perto. Timbres e senbilidades que pra mim expressam um pouco do significado da música, Uma arte que expressa sentimentos e emoções que apenas com palavras seria impossível descrever! Vitinho sou seu fã brother. Parabéns ao Rodrigo pela entrevista. Tiago Felipe.

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  2. Show de entrevista Rodriguinho.... ja era fã do Vitinho, fiquei mais ainda...

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  3. Ótima entrevista! bom ver músicos com essa mentalidade liberta do tradicionalismo. Bom saber que mesmo aparentar um rockeiro, ele acredita que a música brasileira pode muito melhorar sem tanta cópia de gringos.
    Valeu Victor Pradella, valeu Rodrigo!
    Lucas Maia.

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  4. ^^ Muitoo bom ROdrigo! Parabens pela entrevista. O Vitinho é um exemplo a se seguir no meio da músik cristã. Humildade, simplicidade e a verdadeira vida cm Deus são peças fundamentais q ele alcançou e q d forma tão descomplicada passou pra galera q conheceu ele no acampamento.

    Parabens ao Vitinho tbm e q Deus continue usando ele nesse ministerio ;D

    Raissa Meres

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  5. Grande vitinho.. sempre surpreendendo ainda +... Parabens Sucesso... Deus Estará sempre com vc... Abrx
    TiOLéO

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